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GUINÉ BISSAU, Translations - Landmine Monitor Report 2002

GUINÉ BISSAU

Principais evoluções desde Maio de 2001: O Tratado de Proibição de Minas entrou em vigor para a Guiné Bissau em 1 de Novembro de 2001. Em Março de 2002, um inventário das minas antipessoal foi efectuado, revelando um arsenal de 4.997 minas. Em Setembro de 2001, foi formalmente estabelecida uma Comissão Nacional para a Desminagem Humanitária. Entre Novembro de 2000 e Abril de 2002, 175.000 metros quadrados de terra foram desminados. O relatório inicial da Guiné Bissau relativo ao Artigo 7, com o fim de prazo de entrega previsto para 30 de Abril de 2002, não foi ainda entregue.

POLíTICA DE PROIBIçãO DE MINAS.

A Guiné Bissau assinou o Tratado de Proibição de Minas em 3 de Dezembro de 1997, ratificou-o em 22 de Maio de 2001 e este entrou em vigor em 1 de Novembro de 2001. Não foi promulgada nenhuma legislação de aplicação. O relatório inicial da Guiné Bissau relativo ao Artigo 7 deveria ter sido entregue em 30 de Abril de 2002. Em Maio, o Director do Centro Nacional das Acções Anti-Minas (CAAMI) afirmou que o relatório seria enviado durante o mês de Junho e que o atraso se devia ao desejo “de incluir o inventário [de minas] e que já temos, mas também queríamos saber quando é que o Governo planeja destruir” o arsenal.[1] Em 31 de Julho de 2002, o relatório não tinha sido depositado nas Nações Unidas, apesar de que, de acordo com o Conselheiro Técnico da ONU para o CAAMI, “o relatório foi enviado em meados de Junho”.[2]

A Guiné Bissau participou na Terceira Reunião dos Estados Partes ao Tratado de Proibição de Minas em Setembro de 2001, em Manágua, Nicarágua. Também assistiu aos encontros intersessionais do Comité Permanente de Janeiro e Maio de 2002.[3] A Guiné Bissau esteve ausente durante o voto da resolução 56/24M da Assembleia Geral da ONU, em 29 de Novembro de 2001, apelando à implementação do Tratado de Proibição de Minas. Em resposta à questão da ausência, um oficial afirmou, “A Guiné Bissau está totalmente comprometida com a Convenção”.[4]

A Guiné Bissau não é parte na Convenção sobre Armas Convencionais (CCW) e também não esteve presente na Terceira Reunião anual dos Estados Partes ao Protocolo II Revisto ou na Segunda Conferência de revisão da CCW, ambas realizadas em Dezembro de 2001.

PRODUçãO, TRANSFERêNCIA, ARMAZENAGEM E DESTRUIçãO.

A Guiné Bissau nunca foi referida como tendo produzido ou exportado minas antipessoal. Em Fevereiro de 1998, o Governo destruiu vários milhares de minas, mas não houve nenhuma destruição de arsenal desde então.[5] De acordo com o CAAMI, “Este gesto de boa vontade [a destruição de minas de 1998], que foi interrompida devido à guerra será retomado. E felizmente, espero, seremos capazes de destruir a maior parte das nossas minas antes do final do ano[6]”. O Tratado impõe a destruição completa do arsenal em 1 de Novembro de 2005.

Entre 25 e 27 de Março de 2002, uma delegação conjunta incluindo representantes do CAAMI; dos Ministérios da Administração Interna, da Economia, das Finanças e da Defesa; da UNICEF e do PNUD, visitou instalações militares do país para inventariar as minas armazenadas. O Conselheiro Técnico da ONU para o CAAMI afirmou ao Landmine Monitor que “4.997 minas, incluindo minas PMD-6, estão armazenadas em Gabu e outros lugares do país como por exemplo Bafatá. A sua destruição será planeada em breve”.[7]

De acordo com o CAAMI, o arsenal de minas “ronda as 5.000 minas, a maior parte estão concentradas na cidade de Gabu, no leste da Guiné Bissau. A concentração deve-se ao recente conflito. Partes das minas estavam anteriormente em Bambadinca. As forças governamentais, realizando a força das forças da Junta, levaram essas minas e trouxeram-nas para Gabu, que era o lugar mais seguro para elas. As minas ficaram lá”.[8]

O arsenal é composto de “velhas minas que expiraram ... dos anos setenta, de origem portuguesa e belga, como também de origem soviética. Portanto, quando fomos lá [aos armazéns militares], a maior parte das que encontrámos eram de fabrico soviético tais como a PMD-6 e a POMZ-2”.[9]

De acordo com o CAAMI, a Guiné Bissau irá reter “um máximo de 50 minas” para efeitos de instrução, ao abrigo da excepção do Artigo 3º do Tratado de Proibição de Minas e a “maioria serão inertes”. “Guardaremos também cerca de 5 minas activas pois não se pode ter uma unidade de Engenharia sem ter minas reais; não se pode ter forças militares que nunca tenham visto minas reais”.[10]

PROBLEMáTICA DAS MINAS

Durante uma visita ao CAAMI em Fevereiro de 2002, o Primeiro Ministro da Guiné Bissau, Alamara Nhassé afirmou que as minas “condicionam o desenvolvimento do país. As minas são um problema para todos nós, pois elas condicionam diversas actividades, desde a agricultura para os camponeses (80 % da população) ao lazer para as crianças.[11] Segundo o Primeiro Ministro, o Governo “irá apoiar as acções do CAAMI como uma das suas prioridades”.[12]

Com a deflagração do conflito em 1998-1999, as minas tornaram-se num verdadeiro problema na capital da Guiné Bissau.[13] Em Dezembro de 2001, um relatório da HUMAID (uma ONG local) avaliou que a quantidade de minas existentes na cidade de Bissau poderia ir de 2.000 a 4.000 minas, dependendo das concentrações nas diferentes zonas.[14]

As minas foram principalmente utilizadas em cinco sítios: à volta do aeroporto de Bissau, junto à linha de demarcação dentro de Bissau, à volta do hospital psiquiátrico de Bissau, junto à fronteira com o Senegal e ao longo das principais estradas do sul do país.[15] Os bairros afectados em Bissau incluem: Enterramento, Antulo-Bono, Bôr, Bairro das Pescas, Brá e Plack.

Ao passo que apenas 3 zonas (Bissau, Falacunda e Buba) foram referidas como minadas durante o conflito de 1998-1999, um mapa do PNUD fornecido ao CAAMI identifica pelo menos 12 outros lugares como minados durante a guerra de libertação: São Domingos, Bigene, Dungal, Mansaba, Contuboel, Sonaco, Pitche, Buruntuma, Bissasseme de Cima, Galomaro, Boe e Cutar.[16]

De acordo com o Director do CAAMI, a “fronteira com o Senegal, sem nenhuma marcação excepto alguns postes, é uma zona seriamente contaminada. Foi minada para interromper as actividades dos rebeldes da Casamança, que utilizavam o território da Guiné Bissau como um abrigo, e assim, melhorar as relações com o Senegal. Existem minas e armadilhas. O Governo ainda não deu a luz verde para podermos enviar pessoas para avaliar, por isso é a nossa ultima prioridade”.[17]

A Guiné Bissau, e Bissau propriamente dita, também têm um problema sério com engenhos explosivos de guerra, particularmente ao redor do arsenal militar em Brá que foi atingido durante a última guerra. Em 10 de Abril de 2002, uma equipe de coordenação técnica da Handicap International visitou o local e registou diferentes tipos de munições “espalhadas num raio de 5 quilómetros à volta do epicentro.” De acordo com o relatório, quatro acidentes foram registados na zona desde o princípio de 2002. Foi referido que “os campos poluídos estão cultivados e as cinturas de cobre das munições são recuperadas [...] pela população local”.[18]

FINANCIAMENTO DAS ACçõES CONTRA AS MINAS

De acordo com o Director do CAAMI, “A estratégia era de pôr um termo à praga das minas em 2004. Mas o Governo não tem fundos. Para muitos doadores, a Guiné-Bissau não é uma prioridade. Ao princípio apresentámos um plano que totalizava 5.8 milhões de dólares para todo o país. Mas após um ano de trabalho, reduzimos o nosso pedido de fundos para aproximadamente 4 milhões de dólares. Com este dinheiro, poderíamos resolver o problema. No entanto, não estamos a receber esses fundos”.[19]

Aparentemente, cerca de 1,62 milhão de dólares foram fornecidos à acção contra as minas na Guiné Bissau em 2001. A base de dados da ONU para a acção anti-minas indica que, em 2001, os seguintes países deram $1.189.000 para as acções contra as minas na Guiné Bissau: Finlândia, $60.000; Países Baixos, $500.000; os Estados Unidos, $489.000; o Reino Unido, $140.000.[20]

Os Países Baixos forneceram 500.000 dólares para apoiar todas as actividades do CAAMI, incluindo sensibilização.[21] Durante o seu ano fiscal de 2001, os Estados Unidos forneceram $489.000 em assistência, “principalmente para apoiar as operações de desminagem da organização não governamental HUMAID e o restante para a compra de equipamento para o Centro da Acção Anti-Minas da Guiné Bissau...”[22]

Adicionalmente aos fundos acima referidos às Nações Unidas, em 2001, a Alemanha forneceu 138.660 dólares à HUMAID, a Suécia referiu ter doado 100.000 dólares à HUMAID e a França relatou ter fornecido $192.685 à Handicap International para as suas actividades na Guiné Bissau.[23] A Handicap International recebeu, ao longo de 3 anos, $288.000 do Fundo Diana, para os programas de assistência aos sobreviventes de minas na Guiné Bissau.[24]

O Administrador da HUMAID afirmou ao Monitor de Minas em Junho de 2002 que desde Novembro de 2001 a HUMAID “está exclusivamente a trabalhar com fundos norte-americanos, o que permitirá à HUMAID durar mais seis meses”.[25] Ele declarou também que no passado a HUMAID recebeu fundos da Áustria, França, Alemanha, Suécia e Reino Unido. Durante o período entre 1 de Junho de 2001 até 31 de Maio de 2002, as despesas da HUMAID totalizaram 355,841 dólares americanos.[26]

O PNUD financiou e lançou o programa MAX (Mine Action Exchange), que procura maximizar a competência regional em padrões técnicos de desminagem humanitária nos países lusófonos. O projecto emprega sapadores da ADP Moçambique como treinadores. O orçamento do PNUD é de 246.712 dólares para treinar e equipar dois grupos de acção anti-minas (61 sapadores) e $312.715 para os dois grupos funcionarem durante 12 meses.[27] Em Maio de 2002, dois peritos começaram a treinar sapadores para a nova ONG de desminagem da Guiné Bissau, a LUTCAM.

COORDENAçãO DA ACçãO CONTRA AS MINAS

O Centro de Acção Anti-Minas nacional (CAAMI) foi criado em Março de 2001 e um esboço de Programa nacional de Acção Humanitária Anti-Minas (PAAMI) foi preparado em inícios de 2001. Em 10 de Setembro de 2001, o Decreto 55/001 criou formalmente a Comissão Nacional de Desminagem Humanitária (CNDH), que funciona como Comité de Direcção nomeado pelo Governo. O PNUD e as agências da ONU são membros de pleno direito do CNDH.

De acordo com o PNUD, entre as suas prioridades de apoio ao programa nacional de acção estão: desenvolver um estudo de impacto de primeiro nível inicial em Bissau e fora desta, para a marcação adequada das áreas suspeitas; apadrinhar um maior desenvolvimento de uma ONG nacional de acção anti-minas; fornecer treino em padrões humanitários; e desenvolver uma base de dados nacional das acções contra as minas utilizando o Sistema de Gestão da Informação para a Acção contra as Minas (IMSMA).[28]

Em Abril de 2002, o CAAMI requis à Handicap International (HI) uma missão de avaliação. Segundo o Coordenador Técnico da Missão de Desminagem, “A coordenação entre os diversos actores da desminagem está incompleta e existem algumas lacunas ao nível organizacional. As técnicas básicas estão presentes, mas os métodos de gestão do espaço no local e relativos à segurança precisam de aperfeiçoamento. Os problemas de segurança são frequentemente devidos à falta de meios... No entanto, a missão notou uma grande receptividade aos comentários e uma vontade de aumentar os seus conhecimentos sobre os critérios de segurança da desminagem”.[29]

DESMINAGEM

As prioridades da desminagem estão baseadas na extensão do problema, nas consequências para os civis e na política governamental no que toca à fronteira com o Senegal. Portanto, de acordo com o Director do CAAMI, “a principal prioridade é Bissau, porque é a nossa capital e cerca de um terço da população da Guiné Bissau está concentrada lá e porque as minas estão localizadas entre casas e escolas. Depois, iremos trabalhar no Sul, onde existem minas de ambas as guerras – a guerra colonial e a recente. Depois disso, a região Este, onde verificámos que a maior parte das minas são minas anti-tanque portuguesas, nas zonas de Buruntuma e Canquelifá, na região de Gabu. Uma vez que acabemos essas regiões, iremos concentrar todo o nosso trabalho na fronteira com o Senegal”.[30] Relativamente à zona da capital, o Conselheiro Técnico da ONU considera que as prioridades são bastante claras: “Brá, Enterramento, na realidade todos os arredores a norte de Bissau”.[31]

Apesar de ter havido alguma desminagem militar menor dentro de Bissau, logo após a guerra, os militares não estão envolvidos na desminagem.[32] A HUMAID é a única ONG de desminagem no país, operando desde os inícios de 2000. A HUMAID tem 35 sapadores.[33] Os seus sapadores receberam um treino de aperfeiçoamento durante 15 dias em Maio de 2002 efectuado pela ADP Moçambique.[34] Em 2001 e 2002, a HUMAID trabalhou nos Bairros Brá, Bor Enterramento e Manuel Água.

O Conselheiro Técnico da ONU para o CAAMI disse ao Monitor de Minas que entre Novembro de 2000 e Abril de 2002, 175.000 metros quadrados de terra foram desminados e 5,000 engenhos explosivos e 2.500 minas foram destruídos, dos quais 86% eram minas antipessoal.[35] Entre 1 de Junho de 2001 e 31 de Maio de 2002, a HUMAID referiu ter desminado 136.477 metros quadrados de terra; destruindo 976 minas antipessoal, 30 minas antitanque e 6,277 engenhos explosivos.[36]

Uma nova ONG de desminagem, a LUTCAM, está programada começar as suas actividades com 12 sapadores em finais de Julho de 2002.[37] Os sapadores foram treinados em técnicas de desminagem humanitária e de verificação pela ADP Moçambique. Com o apoio do PNUD, irão treinar outros sapadores, com o objectivo de ter 70 sapadores a trabalhar para a LUTCAM. A LUTCAM irá levar a cabo uma avaliação para determinar as prioridades de desminagem na cidade de Bissau, que deverá estar completa em Setembro de 2002.

Para além da desminagem, a marcação dos campos minados é também uma prioridade, De acordo com o Conselheiro Técnico da ONU, embora alguma marcação tenha sido realizada pelos militares “após a última guerra”, não foi realizada segundo os padrões internacionais, deste modo a “marcação é por vezes inadequada”.[38] Entre 1 de Junho de 2001 e 31 de Maio de 2002, as actividades de marcação limitaram-se à substituição da sinalização roubada ou de outra forma retirada dos campos minados.[39] O CAAMI relatou “estamos à espera de algum material que deve estar a chegar. A HUMAID também fez algumas marcações mas a população inocentemente retirou os sinais de metal e cartazes para uso doméstico. Portanto, teremos que marcar novamente as zonas afectadas em Bissau mas apenas após o inquérito de impacte de primeiro nível”.[40]

A Missão de Coordenação Técnica da HI notou que “a população não respeita a marcação das zonas minadas. A população trabalha em zonas suspeitas cultivando arrozeirais e recolhendo sal. Este desrespeito pela marcação deve-se ao facto de que a marcação não foi retirada após o fim do trabalho de desminagem no local. A marcação é parcial (25% - ou seja, apenas um dos lados do campo está sinalizado e os outros três não o estão) ou insuficientemente. Os engenhos explosivos estão espalhados na bermas das estradas sem nenhuma sinalização da área... Num país privado de tudo e onde a população vende quase tudo, deve-se esperar que se recupere o metal e os explosivos. Os foguetões são utilizados como estremas para os terrenos”.[41]

SENSIBILIZAçãO – EDUCAçãO DE PREVENçãO DE RISCOS

A UNICEF criou um Comité de Sensibilização (COAM) que se reúne bi-semanalmente desde Abril de 1999, para planear e coordenar a educação de prevenção de acidentes com minas. Existem 3 enfoques principais: informação, treino e logística. Financiado pelo governo do Canadá, o programa inclui a produção de tecidos de sinalização, triângulos de marcação, T-shirts, de rótulos, painéis publicitários, bandas desenhadas e posters de sensibilização. De acordo com o CAAMI, pelo menos 8 ONG estão a participar de alguma forma em actividades de sensibilização.[42] Para aplicar o programa na sua totalidade serão necessários 127.000 dólares.

As equipes e os activistas de sensibilização estão a trabalhar em todos os bairros de Bissau e arredores. Fora de Bissau, as equipes de sensibilização cobriram as principais áreas afectadas do país, excepto a zona de São Domingos e a região norte para além do rio Cacheu devido à situação de insegurança.[43] A ANDES, uma ONG local, e a Handicap International pediram a autorização para exercerem actividades de sensibilização na zona norte do país, nomeadamente trabalhando com estações de rádio.[44] A ANDES e a Handicap International treinaram activistas de sensibilização em várias zonas do país. A ANDES tem um total de 26 instrutores de sensibilização.

Em Abril de 2002, os instrumentos de sensibilização foram analisados e actualizados e as sessões de sensibilização foram reforçadas nas zonas de risco de Bissau: Enterramento, Brá e Bor. A Handicap International também apoiou um teatro de prevenção de acidentes (PEPAM) em Buba (Sul).[45]

As actividades de prevenção de acidentes com minas são apoiadas pelo PNUD, a UNICEF e o FCILD (Fundo Canadiano para a iniciativa local). A ANAPRODEM e a ANDES também trabalharam no leste do país em direcção a Gabu.[46] O pessoal da HUMAID também “esclareceu os residentes dos campos minados relativamente aos perigos colocados pelas minas e engenhos explosivos. Durante entrevistas na rádio e na televisão, o pessoal da HUMAID explicou os perigos e rogou às pessoas que não entrassem nas zonas assinaladas pelos sinais de perigo”.[47]

VíTIMAS DE MINAS

Em 2001, continuaram a serem registadas vítimas de minas e de engenhos explosivos, no entanto não existem nenhumas estatísticas completas. Entre Junho de 2000 e Março de 2001, a HUMAID registou 5 acidentes com minas.[48] Em Março de 2001, um acidente envolveu 8 crianças em Bolama.[49] De acordo com o Conselheiro Técnico da ONU para o CAAMI, “Existe uma taxa de vítimas de 2 a 3 pessoas por mês, e esta cifra aumenta para 4 ou 5 por mês durante os meses de recolha do caju e o arroz”.[50] Vários incidentes foram registados entre Janeiro e Junho de 2002. Em 26 de Janeiro, uma rapariga de 12 anos foi ferida por uma granada de sopro enquanto preparava lume no Bairro de Enterramento. Em 26 de Fevereiro, um outro acidente em Enterramento envolveu duas crianças, que foram seriamente feridas por estilhaços, enquanto queimavam lixo de casa. Em Março, um soldado foi ferido por uma granada em São Domingos, junto à fronteira Senegalesa.[51] Também em Março, um homem foi morto devido à explosão de um engenho explosivo. Em Abril, um homem perdeu a perna quando pisou uma mina no bairro de Bôr. Um outro incidente teve lugar em Abril, quando, após uma falha de electricidade, um empregado da Aguas e Electricidade da Guiné Bissau pisou uma mina e perdeu uma perna abaixo do joelho.[52]

ASSISTêNCIA AO SOBREVIVENTE

O sistema de saúde foi seriamente afectado pelos conflitos de 1998 e 1999, e as capacidades de reabilitação das vítimas de minas/engenhos explosivos são limitadas. A maior parte das vítimas é tratada ou no Hospital Simões Mendes ou no Hospital Militar do aeroporto. O Governo alegou não ter recursos para assistir os sobreviventes de minas e engenhos explosivos, mas está a trabalhar com a Handicap International e a ANDES para reabilitar os deficientes.[53] Existem dois centros próteticos em Bissau, um é governamental e o outro é gerido pela ANDES, com o apoio da HI.

A ANDES dirige o centro ortopédico chamado a Casa Amiga dos Deficientes e apoia 16 sobreviventes de minas e de engenhos explosivos com fisioterapia e outros 10 esperam tratamento protético. Os pacientes, principalmente crianças, recebem regularmente cuidados no Centro. A ANDES referiu problemas na manutenção do estoque de material protético. No passado, a Andes apoiou a reintegração social e vocacional dos seus pacientes, mas em meados de 2002 não havia fundos disponíveis para fornecer esses serviços. A ANDES fornece apoio psicológico para os sobreviventes quando necessário. A ANDES também assiste os soldados deficientes da guerra de libertação, mas está à espera de detalhes sobre os beneficiários previstos. A ANDES recebe financiamento da HI, do Fundo Diana, Memorial da Princesa de Gales e do Ministério dos Negócios Estrangeiros Francês. De acordo com a ANDES, o CAAMI tem a responsabilidade dos dados sobre vítimas de minas.[54]

Existem várias outras organizações locais civis trabalhando com deficientes, incluindo sobreviventes de minas, tais como a ANAPRODEM, UNDEMO and AGUIPADE.[55]

Um recenseamento das vítimas de minas e outros vestígios explosivos de guerra está a ser levado a cabo, com pelo menos 57 vítimas identificadas até Maio de 2002. Os detalhes do recenseamento deverão estar disponíveis em finais de 2002.[56] A Handicap Internacional completou recentemente um estudo sobre a reintegração dos soldados deficientes para o Programa de Desmobilização, Reinserção e Reintegração (PDRRI).[57] Um estudo independente fornecido pela Handicap International identifica 1.687 soldados deficientes mas nenhum detalhe é dado sobre as causas dos ferimentos.[58]

Política e Prática de Deficiências

Não existe nenhuma lei ou decreto para assistir os deficientes civis na Guiné Bissau. No entanto, os combatentes da guerra da libertação contra Portugal têm direito a cuidados médicos e farmacêuticos numa clínica e farmácia especial. Mas, aqueles que não serviram no exército da Guiné durante a guerra de libertação – incluindo os militares que serviram durante a última guerra – não têm os mesmos direitos. O programa de Desmobilização, PDRRI, não tem disposições específicas para os sobreviventes de minas. De acordo com o Director do CAAMI, a assistência às vítimas não está no mandato do CAAMI.[59]


[1] Entrevista com o Eng.º César Lopes de Carvalho, Director do Centro nacional de Acção Anti-Minas (CAAMI), Genebra, 29 de Maio de 2002.
[2] Entrevista telefónica com Gérard Chagniot, Conselheiro Técnico da ONU, Centro nacional de Acção Anti-Minas (CAAMI), Bissau, 17 de Junho de 2002.
[3] Entrevista com o Eng.º César Lopes de Carvalho, Director do Centro nacional de Acção Anti-Minas (CAAMI), Genebra, 29 de Maio de 2002.
[4] Entrevista com o Eng.º César Lopes de Carvalho, Director do Centro nacional de Acção Anti-Minas (CAAMI), Genebra, 29 de Maio de 2002.
[5] O número original dado para a destruição de minas situava-se entre 2.000-2.300, ver o relatório do Monitor de Minas de 2000, p.167 ; Le Soleil, 9 de Fevereiro de 1998. Numa entrevista telefónica de 17 de Junho de 2002, Gérard Chagniot, Conselheiro Técnico da ONU para o CAAMI, afirmou que 4.771 minas tinham sido destruídas em Fevereiro de 1998.
[6] Entrevista com o Eng.º César Lopes de Carvalho, Director do Centro nacional de Acção Anti-Minas (CAAMI), Genebra, 29 de Maio de 2002.
[7] Entrevista telefónica com Gérard Chagniot, Conselheiro Técnico da ONU, Centro nacional de Acção Anti-Minas (CAAMI), Bissau, 17 de Junho de 2002.
[8] Entrevista com o Eng.º César Lopes de Carvalho, Director do Centro nacional de Acção Anti-Minas (CAAMI), Genebra, 29 de Maio de 2002.
[9] Entrevista com o Eng.º César Lopes de Carvalho, Director do Centro nacional de Acção Anti-Minas (CAAMI), Genebra, 29 de Maio de 2002.
[10] Entrevista com o Eng.º César Lopes de Carvalho, Director do Centro nacional de Acção Anti-Minas (CAAMI), Genebra, 29 de Maio de 2002.
[11] Declaração de Alamara Nhassé “Landmines Hinder Development” (artigo em inglês), LUSA (Agência Internacional de Notícias Portuguesa), Bissau, 20 de Fevereiro de 2002.
[12] Declaração de Alamara Nhassé “Minas condicionam desenvolvimento do país”, LUSA (Agência Internacional de Notícias Portuguesa), Bissau, 20 de Fevereiro de 2002.
[13] Para obter detalhes ver Landmine Monitor Report 1999, pp.154-156; Landmine Monitor Report 2000, pp. 167-168; Landmine Monitor Report 2001, p.79. O Monitor de Minas referiu a utilização de minas por todas as partes no conflito, incluindo a Guiné Bissau e o Senegal, apesar de que todos neguem terem utilizado minas.
[14] HUMAID. “Estimativas do número de minas por metro quadrado restantes em Bissau”. 14 de Dezembro de 2001. As estimativas da quantidade total de minas no país vai de 5.000 a 40.000. A cifra mais habitual é de 5.000.
[15] Major Hervé Petetin, “Mine Situation in Guinea-Bissau,” (Situação das Minas na Guiné Bissau) UNMAS, Dezembro de 1998, p. 1.
[16] Relatório da CAAMI, 2002.
[17] Entrevista com o Eng.º César Lopes de Carvalho, Director do Centro nacional de Acção Anti-Minas (CAAMI), Genebra, 29 de Maio de 2002.
[18] “Compte rendu de la Mission de Coordination Technique” Relatório da Missão Técnica, Handicap Interntional na Guiné Bissau. Lyon, Abril de 2002; comunicação por e-mail e telefone com Manuel Gonzal. Handicap International, Lyon, 14-19 de Junho de 2002.
[19] Entrevista com o Eng.º César Lopes de Carvalho, Director do Centro nacional de Acção Anti-Minas (CAAMI), Genebra, 29 de Maio de 2002.
[20] Base de dados sobre acção anti-minas, cifras fornecidas por http://webapps.dfait-maeci.gc.ca/mai/frameset.asp.
[21] “Report of the Secretary-General on the developments in Guinea-Bissau and on the activities of the United Nations Peace-Building Support Office in that country,” S/2002/312, Nova Iorque, 26 de Março de 2002, p. 3.
[22] Departamento de Estado, “To Walk the Earth in Safety: The United States Commitment to Humanitarian Demining” Novembro de 2001, p.7.
[23] Ver os relatórios individuais por país em Landmine Monitor Report 2002.
[24] E-mail de Sheree Bailey, HIB e coordenador temático para a assistência às vítimas do Landmine Monitor, 19 de Julho de 2002.
[25] Entrevista telefónica com John Blacken, Administrador, HUMAID, Bissau, 18 de Junho de 2002.
[26] E-mail de John Blacken, Administrador, HUMAID, 19 de Junho de 2002; Entrevista telefónica de John Blacken, 18 de Junho de 2002.
[27] “Support to the Guinea-Bissau National Humanitarian Mine Action Program,” PNUD, Novembro de 2001.
[28] “Support to the Guinea-Bissau National Humanitarian Mine Action Program,” PNUD, Novembro de 2001.
[29] Comunicação por e-mail e telefone com Manuel Gonzal. Missão Técnica de Coordenação. Handicap International, Lyon, 14-19 de Junho de 2002. “Compte rendu de la Mission de Coordination Technique” Relatório da Missão Técnica, Handicap Interntional na Guiné Bissau. Lyon, Abril de 2002.
[30] Entrevista com o Eng.º César Lopes de Carvalho, Director do Centro nacional de Acção Anti-Minas (CAAMI), Genebra, 29 de Maio de 2002.
[31] Entrevista telefónica com Gérard Chagniot, Conselheiro Técnico da ONU, Centro nacional de Acção Anti-Minas (CAAMI), Bissau, 17 de Junho de 2002.
[32] Entrevista com o Eng.º César Lopes de Carvalho, Director do Centro nacional de Acção Anti-Minas (CAAMI), Genebra, 29 de Maio de 2002.
[33] Entrevista telefónica com Gérard Chagniot, Conselheiro Técnico da ONU, CAAMI, Bissau, 17 de Junho de 2002.
[34] E-mail de John Blacken, Administrador, HUMAID, 19 de Junho de 2002.
[35] Entrevista telefónica com Gérard Chagniot, Conselheiro Técnico da ONU, CAAMI, Bissau, 17 de Junho de 2002.
[36] E-mail de John Blacken, Administrador, HUMAID, em resposta a um questionário, 19 de Junho de 2002. A maior parte dos engenhos explosivos foram recuperados em Ilonde, que a HUMAID removeu em Maio de 2002. Está programada a destruição de milhares de outros engenhos e muitos milhares continuam espalhados numa zona de um raio de cerca de um quilómetro.
[37] Entrevista telefónica com Irene Laval, CAAMI, Bissau, 14 de Junho de 2002; Conseilho de Segurança da ONU “Report of the Secretary-General on the developments in Guinea-Bissau and on the activities of the United Nations Peace-Building Support Office in that country,” S/2002/312, Nova Iorque, 26 de Março de 2002, p. 3.
[38] Entrevista telefónica com Gérard Chagniot, Conselheiro Técnico da ONU, CAAMI, Bissau, 17 de Junho de 2002.
[39] E-mail de John Blacken, Administrador, HUMAID, 19 de Junho de 2002.
[40] Entrevista com o Engº Cesar Lopes de Carvalho, Director do Centro nacional de Acção Anti-Minas (CAAMI), Genebra, 29 de Maio de 2002.
[41] Comunicação por e-mail e telefone com Manuel Gonzal. Missão Técnica de Coordenação. Handicap International, Lyon, 14-19 de Junho de 2002. “Compte rendu de la Mission de Coordination Technique” Relatório da Missão Técnica, Handicap Interntional na Guiné Bissau. Lyon, Abril de 2002.
[42] Entrevista com o Engº Cesar Lopes de Carvalho, Director do Centro nacional de Acção Anti-Minas (CAAMI), Genebra, 29 de Maio de 2002.
[43] Entrevista telefónica com Irene Laval, Assistente do Programa de Educação e Prevenção de Acidentes com Minas (PEPAM), CAAMI, Bissau, 14 de Junho de 2002.
[44] Relatório da Handicap International, “Rapport d’activités du programme Handicap International” na Guiné Bissau, Bissau, Janeiro a Abril 2002.
[45] Relatório da Handicap International, “Rapport d’activités du programme Handicap International” na Guiné Bissau, Bissau, Janeiro a Abril 2002.
[46] Entrevista telefónica com Irene Laval, Assistente do Programa de Educação e Prevenção de Acidentes com Minas (PEPAM), CAAMI, Bissau, 14 de Junho de 2002.
[47] E-mail de John Blacken, Administrador, HUMAID, 19 de Junho de 2002.
[48] Ver Landmine Monitor Report 2001, p.83.
[49] Entrevista com o Eng.º César Lopes de Carvalho, Director do Centro nacional de Acção Anti-Minas (CAAMI), Genebra, 29 de Maio de 2002.
[50] Entrevista telefónica com Gérard Chagniot, Conselheiro Técnico da ONU, CAAMI, Bissau, 17 de Junho de 2002.
[51] Relatório da Handicap International, “Rapport d’activités du programme Handicap International” na Guiné Bissau, Bissau, Janeiro a Abril 2002.
[52] Entrevista telefónica com Gérard Chagniot, Conselheiro Técnico da ONU, CAAMI, Bissau, 17 de Junho de 2002.
[53] Entrevista com o Eng.º César Lopes de Carvalho, Director do Centro nacional de Acção Anti-Minas (CAAMI), Genebra, 29 de Maio de 2002.
[54] Entrevista telefónica com vários membros não identificados da ANDES, Bissau, 18 de Junho de 2002.
[55] Relatório da Handicap International, “Rapport d’activités du programme Handicap International” na Guiné Bissau, Bissau, Janeiro a Abril 2002.
[56] Entrevista com o Eng.º César Lopes de Carvalho, Director do Centro nacional de Acção Anti-Minas (CAAMI), Genebra, 29 de Maio de 2002.
[57] Relatório da Handicap International, “Rapport d’activités du programme Handicap International” na Guiné Bissau, Bissau, Janeiro a Abril 2002.
[58] Handicap International, Relatório Anual da Guiné Bissau, 22 de Março de 2002; Entrevista telefónica com Eric Debert, Director de Programa na Guiné Bissau da HI, 20 de Junho de 2002.
[59] Entrevista com o Engº Cesar Lopes de Carvalho, Director do Centro nacional de Acção Anti-Minas (CAAMI), Genebra, 29 de Maio de 2002.

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